grandes pensadores B.F. SKINNER O cientista do comportamento e do aprendizado Para o psicólogo behaviorista
norte-americano, a educação deve ser planejada passo a passo, de modo a obter
os resultados desejados na "modelagem" do aluno
Nenhum
pensador ou cientista do século 20 levou tão longe a crença na possibilidade
de controlar e moldar o comportamento humano como o norte-americano Burrhus Frederic Skinner
(1904-1990). Sua obra é a expressão mais célebre do behaviorismo, corrente
que dominou o pensamento e a prática da psicologia, em escolas e
consultórios, até os anos 1950. O
behaviorismo restringe seu estudo ao comportamento (behavior,
em inglês), tomado como um conjunto de reações dos organismos aos estímulos
externos. Seu princípio é que só é possível teorizar e agir sobre o que é
cientificamente observável. Com isso, ficam descartados conceitos e
categorias centrais para outras correntes teóricas, como consciência,
vontade, inteligência, emoção e memória — os estados mentais ou subjetivos. Os
adeptos do behaviorismo costumam se interessar pelo processo de aprendizado
como um agente de mudança do comportamento. "Skinner revela em várias
passagens a confiança no planejamento da educação, com base em uma ciência do
comportamento humano, como possibilidade de evolução da cultura", diz
Maria de Lourdes Bara Zanotto, professora de
psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Condicionamento operante O
conceito-chave do pensamento de Skinner é o de condicionamento operante, que ele acrescentou
à noção de reflexo condicionado, formulada pelo cientista russo Ivan Pavlov.
Os dois conceitos estão essencialmente ligados à fisiologia do organismo,
seja animal ou humano. O reflexo condicionado é uma reação a um estímulo
casual. O condicionamento operante é um mecanismo que premia uma determinada
resposta de um indivíduo até ele ficar condicionado a associar a necessidade
à ação. É o caso do rato faminto que, numa experiência, percebe que o acionar
de uma alavanca levará ao recebimento de comida. Ele tenderá a repetir o
movimento cada vez que quiser saciar sua fome. A
diferença entre o reflexo condicionado e o condicionamento operante é que o
primeiro é uma resposta a um estímulo puramente externo; e o segundo, o
hábito gerado por uma ação do indivíduo. No comportamento respondente (de
Pavlov), a um estímulo segue-se uma resposta. No comportamento operante (de
Skinner), o ambiente é modificado e produz conseqüências que agem de novo
sobre ele, alterando a probabilidade de ocorrência futura semelhante. O
condicionamento operante é um mecanismo de aprendizagem de novo comportamento
- um processo que Skinner chamou de modelagem. O instrumento fundamental de
modelagem é o reforço - a conseqüência de uma ação quando percebida por quem
a pratica. Para o behaviorismo em geral, o reforço pode ser positivo (uma
recompensa) ou negativo (ação que evita uma conseqüência indesejada). “No
condicionamento operante, um mecanismo é fortalecido no sentido de tornar uma
resposta mais provável, ou melhor, mais freqüente”, escreveu o cientista. Sem livre-arbítrio Segundo
Skinner, a ciência psicológica — e também o senso comum — costumava, antes do
aparecimento do behaviorismo, apelar para explicações baseadas nos estados
subjetivos por causa da dificuldade de verificar as relações de
condicionamento operante — ou seja, todas as circunstâncias que produzem e
mantêm a maioria dos comportamentos dos seres humanos. Isso porque elas
formam cadeias muito complexas, que desafiam as tentativas de análise se elas
não forem baseadas em métodos rigorosos de isolamento de variáveis. Nos
usos que projetou para suas conclusões científicas — em especial na educação
—, Skinner pregou a eficiência do reforço positivo, sendo, em princípio,
contrário a punições e esquemas repressivos. Ele escreveu um romance, Walden II, que projeta uma sociedade considerada por ele
ideal, em que um amplo planejamento global, incumbido de aplicar os
princípios do reforço e do condicionamento, garantiria uma ordem harmônica,
pacífica e igualitária. Num de seus livros mais conhecidos, Além da Liberdade
e da Dignidade, ele rejeitou noções como a do livre-arbítrio e defendeu que
todo comportamento é determinado pelo ambiente, embora a relação do indivíduo
com o meio seja de interação, e não passiva. Para Skinner, a cultura humana
deveria rever conceitos como os que ele enuncia no título da obra. Quer
saber mais? Compreender o
Behaviorismo, William M. Baum, 294 págs., Ed. ArtMed, tel. 0800-703 3444, 49
reais Formação de Professores
— A Contribuição da Análise do Comportamento, Maria de Lourdes Bara Zanotto, 184 págs., Ed. Educ/Fapesp/Comped, tel. (11)
3873-3359, 19 reais Pavlov/Skinner — Coleção
Os Pensadores, 400 págs., Ed. Abril Cultural (edição esgotada) Tecnologia do Ensino, Bhurrus
Skinner, 270 págs., Editora Pedagógica e Universitária Ltda., tel. (11)
3168-6077, 42 reais BIOGRAFIA Burrhus Frederic
Skinner nasceu em Susquehanna, no estado
norte-americano da Pensilvânia, em 1904. Criado num ambiente de disciplina
severa, foi um estudante rebelde cujos interesses, na adolescência, eram a
poesia e a filosofia. Formou-se em língua inglesa na Universidade de Nova
York antes de redirecionar a carreira para a psicologia, que cursou em
Harvard — onde tomou contato com o behaviorismo. Seguiram-se anos dedicados a
experiências com ratos e pombos, paralelamente à produção de livros. O método
desenvolvido para observar os animais de laboratório e suas reações aos
estímulos levou-o a criar pequenos ambientes fechados que ficaram conhecidos
como caixas de Skinner, depois adotadas para experimentos pela indústria
farmacêutica. Quando sua filha nasceu, Skinner criou um berço climatizado, o
que originou um boato de que a teria submetido a experiências semelhantes às
que fazia em laboratório. Em 1948, aceitou o convite para ser professor em
Harvard, onde ficou até o fim da vida. Morreu em 1990, em ativa militância a
favor do behaviorismo. "A educação é o
estabelecimento de comportamentos que serão vantajosos para o indivíduo e
para outros em algum tempo futuro"
Para pensar Ainda que Skinner considerasse
importante levar em conta as diferenças entre os alunos de um mesmo
professor, o behaviorismo se baseia fundamentalmente na previsibilidade das
reações aos estímulos e reforços. Seus objetivos educacionais buscam
resultados definidos antecipadamente, para que seja possível, diante de uma
criança ou adolescente, projetar a modelagem de um adulto. Você considera
importante, como professor, saber de antemão exatamente o que deseja de seus
alunos? É possível planejar o aprendizado em detalhes? "Quando houver
domínio sobre a ciência do comportamento, ela será a única alternativa para a
sociedade planejada"
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