FRANCIS BACON O iniciador do empirismo é Francis Bacon. Enalteceu
ele a experiência e o método dedutivo de tal modo, que o transcendente e a
razão acabam por desaparecer na sombra. Falta-lhe, no entanto, a consciência
crítica do empirismo, que foram aos poucos conquistando os seus sucessores e
discípulos até Hume. Ademais, Bacon continua afirmando - mais ou menos
logicamente - o mundo transcendente e cristão; antes, continua a considerar a
filosofia como esclarecedora da essência da realidade, das formas, sustentáculo e
causa dos fenômenos sensíveis. É uma posição filosófica que apela para a
metafísica tradicional, grega e escolástica, aristotélica e tomista.
Entretanto, acontece em Bacon o que aconteceu a muitos pensadores da
Renascença, e o que acontecerá a muitos outros pensadores do empirismo e do
racionalismo: isto é, a metafísica tradicional persiste neles todos histórica
e praticamente ao lado da nova filosofia, tanto mais quanto esta é menos
elaborada, acabada e consciente de si mesma. Vida e Obras
Francis Bacon nasceu no dia 22 de janeiro de 1561 na York House, Londres,
residência de seu pai sir
Nicholas Bacon, que nos primeiros vinte anos do reinado de Elizabeth tinha
sido o Guardião do Sinete. "A fama do pai", diz Maucaulay,
"foi ofuscada pela do filh". Mas sir Nicholas não era um
homem comum." A mãe de Bacon foi lady Anne Cooke, cunhada de sir William Cecil, lorde
Burghley, que foi tesoureiro-mor de Elizabeth e um dos homens mais poderosos
da Inglaterra. O pai dela tinha sido o tutor-chefe do rei Eduardo VI; ela
mesma era lingüista e teóloga, e não tinha dificuldade em se corresponder em
grego com bispos. Tornou-se instrutora do filho e não poupou esforços para
que ele tivesse instrução. Bacon frequentou a Universidade de Cambridge, e
viveu também em Paris. Começou a sua carreira de homem político e jurista,
antes sob a rainha Isabel, e, depois, sob Jaime I, subindo até aos mais altos
cargos: advogado geral em 1613, membro do Conselho particular em 1616,
chanceler do reino em 1618. Foi agraciado por Jaime I com os títulos de Barão
de Verulamo e Visconde de S. Albano. Entretanto foi acusado de concussão e
condenado pelo Parlamento a uma multa avultuada. Perdoado pelo rei,
retirou-se para as suas terras, dedicando-se inteiramente aos estudos.
Faleceu em 1626. Teve uma inteligência muito esclarecida, convencido da sua
missão de cientista, segundo o espírito positivo e prático da mentalidade
anglo-saxônia. A obra principal de Bacon é a Instauratio
magna scientiarum, vasta síntese que deveria ter compreendido
seis grandes partes. Mas terminou apenas duas, deixando sobre o resto esboços
e fragmentos. As duas partes acabadas são precisamente: I - De dignitate et
argumentis scientiarum; II
- Novum
organum scientiarum. Como se vê pelos títulos, e mais ainda pelo
conteúdo, trata-se de pesquisas gnosiológicas, críticas e metodológicas, para
lançar as bases lógicas da nova ciência, da nova filosofia, que deveria dar
ao homem o domínio da realidade. Os Ensaios
Sua ascensão parecia tornar realidade os sonhos de Platão de um
rei-filósofo. Porque, passo a passo com a sua subida para o poder político,
Bacon estivera escalando os píncaros da filosofia. É quase inacreditável que
o imenso saber e as realizações literárias desse homem fossem apenas os
incidentes e as digressões de uma turbulenta carreira política. Era seu lema
que se vivia melhor na vida oculta - bene
vixit qui bene latuit. Não conseguia chegar a uma conclusão sobre
se gostava mais da vida contemplativa ou da ativa. Sua esperança era de ser
filósofo e estadista, também, como Sêneca; embora desconfiasse de que essa
dupla direção de sua vida fosse encurtar o seu alcance e reduzir suas
realizações. "É difícil dizer", escreve ele, e "se a mistura
de contemplações com uma vida ativa ou o retiro inteiramente dedicado a
contemplações é o que mais incapacita ou prejudica a ment." Achava que
os estudos não podiam ser um fim ou a sabedoria por si sós,
e que o conhecimento não aplicado em ação era uma pálida vaidade acadêmica. "Dedicar-se em demasia aos
estudos é indolência; usá-los em demasia como ornamento é afetação; fazer
julgamentos seguindo inteiramente suas regras é o capricho de um scholar.
(...) Os homens astutos condenam os estudos, os homens simples os admiram, e
os homens sábios se utilizam deles, obtida graças à observação."
Eis uma nova nota que marca o fim da escolástica - isto é, o divórcio entre o
conhecimento e o uso e a observação - e coloca aquela ênfase na experiência e
nos resultados que distingue a filosofia inglesa, e culmina no pragmatismo.
Não que Bacon tivesse, por um instante, deixado de amar os livros e a
meditação; em palavras que lembram Sócrates, ele escreve: "sem filosofia, não quero
viver", e descreve a si mesmo como, afinal de contas,
"um homem naturalmente mais propenso à literatura do que a qualquer
outra coisa, e levado por algum destino, contra a inclinação de seu
gênio" (isto é caráter), "a vida ativa". Quase que a sua
primeira publicação recebeu o título de O
Elogio do Conhecimento (1592); o entusiasmo do trabalho pela
filosofia nos obriga a uma citação. "Meu elogio será dedicado à própria mente. A mente é o homem, e o
conhecimento é a mente; um homem é apenas aquilo que ele sabe. (...) Não são
os prazeres das afeições maiores do que os prazeres dos sentidos, e não são
os prazeres do intelecto maiores do que os prazeres das afeições? Não se
trata, apenas, de um verdadeiro e natural prazer do qual não há saciedade?
Não é só esse conhecimento que livra a mente de todas as perturbações?
Quantas coisas existem que imaginamos não existirem? Quantas
coisas estimamos e valorizamos mais do que são? Essas vãs imaginações,
essas avaliações desproporcionadas, são as nuvens do erro que se transformam
nas tempestades das perturbações. Existirá, então, felicidade igual à
possibilidade da mente do homem elevar-se acima da confusão das coisas de
onde ele possa ter uma atenção especial para com a ordem da natureza e o erro
dos homens? De contentamento e não de benefício? Será que não devemos
perceber tanto a riqueza do armazém da natureza quanto a beleza de sua loja?
Será estéril a verdade? Não poderemos, através dela, produzir efeitos dignos
e dotar a vida do homem com uma infinidade de coisas úteis?" Sua mais bela produção literária, os Ensaios
(1597-1623), mostram-no ainda indeciso entre dois amores, a política e a
filosofia. No Ensaio sobre
a Honra e a Reputação, ele dá todos os graus de honra a
realizações políticas e militares, nenhum a literárias e filosóficas. Mas no
ensaio Da Verdade,
ele escreve: "A indagação da verdade, que é namorá-la ou cortejá-la; o
conhecimento da verdade, que é o elogio a ela; e a crença na verdade, que é
gozá-la, são o bem soberano das naturezas humanas." Nos livros, "conversamos com os sábios,
como na ação conversamos com tolos". Isto é, se soubermos
escolher os nossos livros. "Certos livros são para serem provados", outros para serem
engolidos, e alguns poucos para serem mastigados e digeridos";
todos esses grupos formam, sem dúvida, uma porção infinitesimal dos oceanos e
cataratas de tinta nos quais o mundo é diariamente banhado, envenenado e
afogado. Não há dúvida de que os >Ensaios
devem ser incluídos entre os poucos livros que merecem ser mastigados e
digeridos. Raramente se encontrará uma refeição tão substanciosa, tão
admiravelmente preparada e temperada, em um prato tão pequeno. Bacon abomina
os recheios e detesta desperdiçar uma palavra; ele nos oferece uma infinita
riqueza numa pequena frase; cada um desses ensaios fornece, em uma ou duas
páginas, a destilada sutileza de uma mente de mestre sobre um importante aspecto
da vida. É difícil dizer o que é mais excelente, se a matéria ou o estilo;
porque ali se acha uma linguagem de tão alta qualidade na prosa quanto é a de
Shakespeare em verso. É um estilo como o do vigoroso Tácito, compacto mas refinado; e na verdade uma parte de sua concisão se
deve a uma habilidosa adaptação do idioma e do frasear latinos. Mas a sua
riqueza no que se refere a metáforas é caracteristicamente elizabetana e
reflete a exuberância da Renascença;
nenhum homem, na literatura inglesa, é tão fértil em comparações
significativas e substanciosas. A excessiva sucessão dessas comparações
constitui o único defeito do estilo de Bacon: as intermináveis metáforas,
alegorias e alusões caem como chicotes sobre os nossos nervos e acabam por
nos exaurir. Os Ensaios
são como um alimento rico e pesado, que não pode ser digerido em grandes
quantidades de uma só vez; mas tomados quatro ou cinco de cada vez,
constituem o melhor alimento intelectual. No ensaio"Da Juventude e da Idade"ele
condensa um livro em um parágrafo. "Os
jovens são mais aptos para inventar do que para julgar, mais aptos para a
execução do que para o assessoramento, e mais aptos para novos projetos do
que para atividades já estabelecidas; porque a experiência da idade em coisas
que estejam ao alcance dessa idade os dirige; mas em coisas novas, os
maltrata. (...) Os jovens, na conduta e na administração dos atos, abraçam
mais do que podem segurar, agitam mais do que podem acalmar; voam para o fim
sem consideração para com os meios e os graus; perseguem absurdamente alguns
princípios com que toparam por acaso; não se importam em "(isto é, em
como)" inovar, o que provoca transtornos desconhecidos. (...) Os homens
maduros fazem objeções demais, demoram-se demais em consultas, arriscam-se
muito pouco, arrependem-se cedo demais e raramente levam o empreendimento até
o fim, mas se contentam com uma mediocridade de sucesso. Não há dúvida de que
é bom forçar o emprego de ambos (...), porque as virtudes de qualquer um
deles poderão corrigir os defeitos dos dois." Bacon acha,
apesar de tudo, que a juventude e a infância podem ter uma liberdade
demasiada e, assim, crescer desordenadas e relaxadas. "Que os pais
escolhem cedo as vocações e os cursos que pretendem que seus filhos sigam,
pois é nessa fase que eles são mais flexíveis; e que não se concentrem demais
no pensor dos filhos, pensando que estes irão dedicar-se melhor àquilo para
que estejam mais inclinados. É verdade que se os pendores ou a aptidão dos
filhos forem extraordinários, é bom não contrariá-los; mas em geral, é bom o
preceito" dos pitagóricos: "Optimum
lege, suave et facile illud faciet consuetudo"
- escolha o melhor; o hábito irá torná-lo agradável e fácil. Porque "o hábito é o principal
magistrado da vida do homem." A política dos Ensaios prega um conservantismo natural em que aspira ao
governo. Bacon quer um forte poder central. A monarquia é a melhor forma de
governo; e em geral, a eficiência de um Estado varia com a concentração do
poder. "Deve haver três pontos essenciais nas atividades" do
governo: "a preparação; o debate, ou exame; e a conclusão" (ou
execução). "Se quiserdes presteza, que só o do meio fique a cargo de
muitos, com o primeiro e o último ficando a cargo de uns poucos." Ele é
um militarista confesso; deplora o crescimento da indústria por considerar
que isso deixa os homens despreparados para a guerra, e lamenta uma paz
prolongada, por aplacar o guerreiro que existe no homem. Apesar disso,
reconhece a importância das matérias-primas: "Sólon disse a Creso
(quando, por ostentação, Creso lhe mostrou o seu ouro): "Senhor, se
chegar qualquer outro que tenha melhor ferro do que vós, ele será dono de
todo esse ouro." Tal como Aristóteles,
Bacon dá alguns conselhos para se evitarem revoluções. "O meio mais
seguro de evitar sedições (...) é afastar a causa; porque se o combustível
estiver preparado, é difícil dizer de onde virá a
fagulha que irá atear-lhe fogo. (...) Tampouco se segue que a supressão dos
rumores" (isto é, da discussão) "com demasiada severidade deva ser
o remédio para os problemas; porque muitas vezes o desprezo é a melhor forma
de contê-los, e as providências para reprimi-los só fazem dar vida longa à
especulação. (...) A substância da sedição é de dois tipos: muita pobreza e
muito descontentamento. (...) As causas e motivos das sedições são as
inovações na religião; os impostos; as modificações de leis e costumes; o
cancelamento de privilégios; a opressão generalizada; o progresso de pessoas
indignas, estranhas, as privações; soldados desmobilizados; facções
desesperadas; e tudo aquilo que, ao ofender um povo, faz com que ele se una
em uma casa comum." A sugestão de todos os líderes, claro, é dividir
seus inimigos e unir os amigos. "De modo geral, é dividir e enfraquecer
todas as facções (...) contrárias ao Estado, e colocá-las longe uma das
outras, ou pelo menos semear a desconfiança entre elas, não é um dos piores
remédios; porque é desesperador o caso em que aqueles que apóiam o governo
estão cheios de discórdia e cisões, e os que estão contra ele estão inteiros
e unidos." Uma receita melhor para evitar as revoluções é uma
distribuição eqüitativa da riqueza: "O
dinheiro é como o esterco, só é bom se for espalhado."Mas isso não significa
socialismo ou, mesmo, democracia; Bacon não confia no povo, que na sua época
praticamente não tinha acesso à educação; "a
mais baixa das lisonjas é a lisonja do homem do povo", e
"Fócion compreendeu bem quando, ao ser aplaudido pela multidão,
perguntou o que tinha feito de errado." O que Bacon quer é, primeiro,
uma pequena burguesia de proprietários rurais; depois, uma aristocracia para
a administração; e acima de todos, um rei-filósofo. "Quando não há
exemplos de que um governo não tenha prosperado com governos cultos."
Ele cita Sêneca, Antonio Pio e Aurélio; tinha a esperança de que aos nomes
deles a posteridade acrescentasse o seu. O Pensamento: A "Instauratio Magna"
A Instauratio magna
scientiarum deveria ter precisamente representado a reforma do
saber, deveria ter constituído a summa
philosophica dos tempos novos, e lançado o fundamento do regnum hominis, tão
audazmente iniciado pela ciência e pela política da Renascença. Essa obra
deveria ter abraçado a enciclopédia das ciências e compreendido também as
técnicas, segundo o novo ideal humano e prático e imanentista. Começa-se,
portanto, com a classificação geral das disciplinas humanas, baseada no
respectivo predomínio das três faculdades que presidem à organização do
saber: memória, fantasia, razão. Essa classificação é baseada não no objeto
do conhecimento, e sim no sujeito que conhece. 1) História tanto civil
quanto natural, que registra (memória) os dados de fato; 2) Poesia, elaboração
imaginativa desses dados; 3)
Ciência ou
filosofia, isto é, conhecimento racional de Deus, do homem e da natureza. A teologia natural
de Bacon não exclui, mas prescinde da revelação cristã e da religião
positiva. A ciência do
homem divide-se em ciência do homem individual (philosophia humanitatis),
e em ciência da sociedade humana (philosophia
civilis). A primeira diz respeito ao homem todo, espírito e
matéria. A segunda diz respeito à arte de governar e às relações sociais e
aos negócios. A filosofia
natural ou física, divide-se em especulativa
e operativa. A
primeira, por sua vez, se divide emfísica
especial ("que procura a causa eficiente e material"),
e em metafísica
("que procura a causa final e a forma"). Pertencem pois à
física operativa as artes mecânicas. Acima das ciências
filosóficas particulares, Bacon põe uma ciência filosófica comum,
denominando-a philosophia
prima. Esta não é a ontologia tradicional, a ciência do ser em
geral, mas a ciência dos princípios comuns às várias ciências. O "Novum Organum"
Entretanto, o que interessa mais a Bacon não é esta ciência dos
princípios comuns, e sim a ciência da natureza, e, portanto, o Novum organum, que
deveria conter precisamente as regras para a construção da ciência da
natureza. Como é sabido, Bacon reivindica, contra Aristóteles e
a Escolática,
o método indutivo. Aristóteles e Tomás de Aquino
afirmaram claramente este método, e até o reconheceram como único
procedimento inicial do conhecimento humano; entretanto a eles interessavam
muito mais as causas do que a experiência, o que transcende a experiência do
que a experiência; muito mais a metafísica do que a ciência. Segundo Bacon, o verdadeiro método da indução científica compreende uma
parte negativa ou crítica, e uma parte positiva ou construtiva. A parte negativa consiste,
antes de tudo, em alertar a mente contra os erros comuns, quando procura a
conquista da ciência verdadeira. Na sua linguagem imaginosa Bacon chama as
causas destes erros comuns, fantasmas - idola
- e os divide em quatro grupos fundamentais. 1) Idola
tribus, a saber, os erroa da raça humana "fundamentados em a
natureza como tal" (não se sabe, pois, o verdadeiro porquê); 2) Idola
specus (por alusão à caverna de Platão)
determinados pelas disposições subjetivas de cada um; 3) Idola
fori, erros da praça, provenientes do comércio social ou da
linguagem imperfeita; 4) Idola
theatri, isto é, os erros provenientes das escolas filosóficas,
que substituem o mundo real por um mundo fantástico, por um jogo cênico. Desembaraçado o terreno destes erros, Bacon passa a tratar da natureza positiva,
construtiva, da genuína
interpretação da natureza para dominá-la. Mas, para tanto, é mister conhecer as que Bacon chama de >formas, isto é, os
princípios imanentes, causa e lei da ação e da ordem das naturezas. As naturezas
são precisamente os fenômenos experimentais, objeto da física especial (luz,
calor, pêso, etc.); as formas são leis genéticas e organizadoras das
naturezas, as essências ou causas formais, objeto da metafísica de Bacon. Esta pesquisa, esta passagem das naturezas às formas, dos fenômenos às essências - bem conhecida pela filosofia tradicional - é
determinada por Bacon, segundo um método preciso, desconhecido dos
predecessores, nas famosas tabulae
baconianas. Para determinar de um modo certo as causas e as leis dos
fenômenos - isto é, as formas das naturezas - Bacon recolhe, antes de tudo, o
maior número possível de exemplos, em que um determinado fenômeno aparece;
depois enumera os casos que mais se assemelham às
primeiras, em que, porém, o mesmo fenômeno não aparece. Enfim registra o
aumentar ou o diminuir do fenômeno em questão, quer no mesmo objeto, quer em
objetos diferentes. Têm-se, desta maneira, três espécies de registros ou
tabelas: 1)
tabelas de presença; 2) tabelas de ausência; 3) tabelas de gradações. É evidente
que nos casos onde uma determinada natureza ou fenômeno aparecem,
aí se encontrará também a sua causa e lei; nos casos em que o fenômeno não se
manifesta, aí faltará também a sua causa e lei; e nos casos onde o fenômeno
aumenta ou diminui, aí aumentará ou diminuirá também a sua causa e lei. A
causa (forma) dos fenômenos (naturezas) será procurada, portanto, com base
nos fenômenos presentes na primeira tabela; não sendo fácil, a princípio,
ter-se tabelas completas e isolar as naturezas simples, e desta maneira pôr
em evidência a causa, é mister estabelecê-la por hipótese, que será, em
seguida, averiguada pelas experimentações. Essa
gnosiologia, metodologia (empírica) é baseada em uma metafísica, uma física
materialista e, mais precisamente, atomista, bastante semelhante à de
Demócrito. O mundo material é constituído de corpúsculos, qualitativamente
idênticos, diversos apenas por grandeza, forma e posição. Estes corpúsculos
são animados por uma força, em virtude da qual se agrupam em determinados
complexos, que constituem as formas baconianas. |