O
sociólogo suíço Philippe Perrenoud é um dos novos autores mais
lidos no Brasil. Com nove títulos publicados em português,
vendeu nos últimos três anos mais de 80 mil exemplares. O
principal motivo do sucesso é o fato de ele discorrer, de forma
clara e explicativa, sobre temas complexos e atuais, como formação,
avaliação, pedagogia diferenciada e, principalmente, o
desenvolvimento de competências.
Esse
é um dos pontos mais reconhecidos de seu trabalho. "Competência
é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos
(saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar uma série
de situações", explica ele. "Localizar-se numa cidade
desconhecida, por exemplo, mobiliza as capacidades de ler um mapa,
pedir informações; mais os saberes de referências geográficas
e de escala." A descrição de cada competência, diz, deve
partir da análise de situações específicas.
A
abordagem por competência também é utilizada quando Perrenoud
fixa objetivos na formação profissional. No livro 10 Novas
Competências para Ensinar, ele relaciona o que é imprescindível
saber para ensinar bem numa sociedade em que o conhecimento está
cada vez mais acessível:
1)
Organizar e dirigir situações de aprendizagem;
2)
Administrar a progressão das aprendizagens;
3)
Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação;
4)
Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho;
5)
Trabalhar em equipe;
6)
Participar da administração escolar;
7)
Informar e envolver os pais;
8)
Utilizar novas tecnologias;
9)
Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
10)
Administrar a própria formação;
"Ele
trouxe definitivamente à berlinda a discussão do
profissionalismo", ressalta Suzana Moreira, coordenadora
pedagógica da Escola Projeto Vida, responsável por cursos de
capacitação nas redes pública e particular. Nesse trabalho, ela
incentiva a postura reflexiva destacada por Perrenoud. Numa
primeira etapa, Suzana assiste a algumas aulas. Em seguida,
conversa com o professor e faz com que ele questione a própria
atuação. "Só depois de uma reflexão sobre erros e
acertos, eu passo os referenciais teóricos. Todos têm o direito
de errar para evoluir."
Perrenoud
auxilia nessa tarefa ao levantar as grandes dificuldades
encontradas por quem assume uma sala de aula. Quando escreveu
sobre a comunicação entre aluno e professor, por exemplo, ele
fez um levantamento para saber o que o segundo anotava nos
cadernos e boletins dos primeiros. Pediu também, nas entrevistas
com os colegas, uma lista de observações sobre o que se perde
quando a comunicação em classe não funciona. Ao combinar essas
informações, chegou a 11 dilemas sobre o assunto, como
"Deixar falar ou fazer ficar quieto?" e "Como fazer
justiça, sem interferir nas regras do jogo social?"
"Embora não aponte a solução, ele tem o mérito de
identificar os problemas", afirma Lino de Macedo, do
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. |