3 - A Ciência
3.1
- Do medo à Ciência
A
evolução humana corresponde ao desenvolvimento de sua inteligência. Sendo assim
podemos definir três níveis de desenvolvimento da inteligência dos seres
humanos desde o surgimento dos primeiros hominídeos: o medo, o misticismo e a
ciência.
a)
O medo:
Os
seres humanos pré-históricos não conseguiam entender os fenômenos da natureza.
Por este motivo, suas reações eram sempre de medo: tinham medo das tempestades
e do desconhecido. Como não conseguiam compreender o que se passava diante
deles, não lhes restava outra alternativa senão o medo e o espanto daquilo que
presenciavam.
b)
O misticismo:
Num
segundo momento, a inteligência humana evoluiu do medo para a tentativa de
explicação dos fenômenos através do pensamento mágico, das crenças e das
superstições. Era, sem dúvida, uma evolução já que tentavam explicar o que
viam. Assim, as tempestades podiam ser fruto de uma ira
divina, a boa colheita da benevolência dos mitos, as desgraças ou as fortunas
do casamento do humano com o mágico.
c)
A ciência:
Como
as explicações mágicas não bastavam para compreender os fenômenos os seres
humanos finalmente evoluíram para a busca de respostas através de caminhos que
pudessem ser comprovados. Desta forma, nasceu a ciência metódica, que procura
sempre uma aproximação com a lógica.
O
ser humano é o único animal na natureza com capacidade de pensar. Esta
característica permite que os seres humanos sejam capazes de refletir sobre o
significado de suas próprias experiências. Assim sendo, é capaz de novas
descobertas e de transmiti-las a seus descendentes.
O
desenvolvimento do conhecimento humano está intrinsecamente ligado à sua
característica de viver em grupo, ou seja, o saber de um indivíduo é
transmitido a outro, que, por sua vez, aproveita-se deste saber para somar
outro. Assim evolui a ciência.
3.2 - A evolução da Ciência
Os
egípcios já tinham desenvolvido um saber técnico evoluído, principalmente nas
áreas de matemática, geometria e na medicina, mas os gregos foram provavelmente
os primeiros a buscar o saber que não tivesse, necessariamente, uma relação com
atividade de utilização prática. A preocupação dos precursores da filosofia (filo
= amigo + sofia (sóphos) = saber e quer dizer amigo do saber)
era buscar conhecer o porque e o para que de tudo o que se pudesse pensar.
O
conhecimento histórico dos seres humanos sempre teve uma forte influência de
crenças e dogmas religiosos. Mas, na Idade Média, a Igreja Católica serviu de
marco referencial para praticamente todas as idéias discutidas na época . A
população não participava do saber, já que os documentos para consulta estavam
presos nos mosteiros das ordens religiosas. Foi no período do Renascimento, aproximadamente entre o
séculos XV e XVI (anos 1400 e 1500) que, segundo alguns historiadores, os seres
humanos retomaram o prazer de pensar e produzir o conhecimento através das
idéias. Neste período as artes, de uma forma geral, tomaram um impulso
significativo. Neste período Michelangelo Buonarrote
esculpiu a estátua de David e pintou o teto da Capela Sistina, na
Itália; Thomas Morus escreveu A Utopia (utopia
é um termo que deriva do grego onde u = não + topos = lugar e
quer dizer em nenhum lugar); Tomaso Campanella
escreveu A Cidade do Sol; Francis Bacon, A Nova Atlântica;
Voltaire, Micrômegas, caracterizando um
pensamento não descritivo da realidade, mas criador de uma realidade ideal, do
dever ser. No
século XVII e XVIII (anos 1600 e 1700) a burguesia assumiu uma característica
própria de pensamento, tendendo para um processo que tivesse imediata
utilização prática. Com isso surgiu o Iluminismo, corrente filosófica
que propôs "a luz da razão sobre as trevas dos dogmas religiosos".
O pensador René Descartes mostrou ser a razão a essência dos seres humanos,
surgindo a frase "penso, logo existo".
No aspecto político o movimento Iluminista expressou-se pela
necessidade do povo escolher seus governantes através de livre escolha da
vontade popular. Lembremo-nos de que foi neste período que ocorreu a Revolução
Francesa em 1789. O
Método Científico surgiu como uma tentativa de organizar o pensamento para se
chegar ao meio mais adequado de conhecer e controlar a natureza. Já no fim do
período do Renascimento, Francis Bacon pregava o método indutivo como
meio de se produzir o conhecimento. Este método entendia o conhecimento como
resultado de experimentações contínuas e do aprofundamento do conhecimento
empírico. Por outro lado, através de seu Discurso sobre o método, René
Descartes defendeu o método dedutivo como aquele que possibilitaria a aquisição
do conhecimento através da elaboração lógica de hipóteses e a busca de sua
confirmação ou negação. A
Igreja e o pensamento mágico cederam lugar a um processo denominado, por alguns
historiadores, de "laicização da
sociedade". Se a Igreja trazia até o fim da Idade Média a hegemonia
dos estudos e da explicação dos fenômenos relacionados à vida, a ciência tomou
a frente deste processo, fazendo da Igreja e do pensamento religioso
razão de ser dos estudos científicos. No
século XIX (anos 1800) a ciência passou a ter uma importância fundamental.
Parecia que tudo só tinha explicação através da ciência. Como se o que não
fosse científico não correspondesse a verdade. Se
Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Giordano Bruno,
entre outros, foram perseguidos pela Igreja, em função de suas idéias sobre as
coisas do mundo, o século XIX serviu como referência de desenvolvimento do
conhecimento científico em todas as áreas. Na sociologia Augusto Comte desenvolveu sua explicação de sociedade, criando o Positivismo,
vindo logo após outros pensadores; na Economia, Karl Marx procurou explicar a relações sociais através das questões econômicas,
resultando no Materialismo-Dialético; Charles Darwin revolucionou a
Antropologia, ferindo os dogmas sacralizados pela
religião, com a Teoria da Hereditariedade das Espécies ou Teoria da
Evolução. A ciência passou a assumir uma posição quase que religiosa diante
das explicações dos fenômenos sociais, biológicos, antropológicos, físicos e
naturais.
3.3
- A neutralidade científica É
sabido que, para se fazer uma análise desapaixonada de qualquer tema, é
necessário que o pesquisador mantenha uma certa
distância emocional do assunto abordado. Mas será isso possível? Seria possível
um padre, ao analisar a evolução histórica da Igreja, manter-se afastado de sua
própria história de vida? Ou ao contrário, um pesquisador ateu abordar um tema
religioso sem um conseqüente envolvimento ideológico nos caminhos de sua
pesquisa? Provavelmente
a resposta seria não. Mas, ao mesmo tempo, a consciência desta realidade pode
nos preparar para trabalhar esta variável de forma que os resultados da
pesquisa não sofram interferências além das esperadas. É preciso que o
pesquisador tenha consciência da possibilidade de interferência de sua formação
moral, religiosa, cultural e de sua carga de valores para que os resultados da
pesquisa não sejam influenciados por eles além do aceitável.
Voltar para o item |